Trabalhos terminam em Dezembro, mas a reitoria do santuário ainda não reuniu as verbas necessárias para pagar as despesas
O santuário do Cristo-Rei, em Almada, vai reabrir no início do próximo mês, segundo informações da reitoria responsável pela sua gestão. O monumento encontra-se fechado ao público desde Abril, altura em que arrancaram as respectivas obras de limpeza e conservação. Os trabalhos já se encontram perto do fim, faltando apenas alguns retoques no interior do edifício e a total remoção dos andaimes.
De acordo com o padre Jaime Silva, responsável pela reitoria do santuário, as obras já deveriam ter terminado em Setembro. O prazo foi adiado devido à falta de verbas disponibilizadas, estando a reitoria a dever 180 mil contos às empresas responsáveis pelos trabalhos. “Estamos a tratar de um empréstimo bancário e, provavelmente, vamos ter que vender um terreno que temos”, revelou o clérigo ao JN.
Quando se tornou conhecida a intenção de se fazerem obras no monumento, muitos foram os patrocínios que surgiram. “Esse facto deu-nos uma esperança em termos monetários”, referiu o sacerdote, acrescentando: “Quando chegou a altura de assinar os contratos as empresas desceram o preço e acabámos por ficar apenas com dois patrocínios.”
As entidades que patrocinaram as obras apenas contribuíram com mil contos, o que, no entender do responsável, “não tem expressão nenhuma perto da dívida que temos neste momento”.
O representante da reitoria acredita que se as condições climatéricas forem favoráveis, “o santuário reabre, certamente, em Dezembro”.
A intervenção teve como objectivo a limpeza e reestruturação da parte exterior do monumento. “Já havia pedaços de pedra a cair”, salientou o sacerdote. Isto, porque a estrutura já se encontrava em estado avançado de degradação devido à chuva e, principalmente, ao vento forte que se faz sentir por toda a área. O exterior teve que ser lavado com um detergente próprio para o efeito, com a aplicação de um produto químico para evitar o desgaste da pedra.
No terraço mirante – local situado na parte mais alta do santuário -foram retiradas quatro clarabóias que existiam, devido às grandes infiltrações de água. “Tínhamos que andar a tirar a água com baldes”, explicou Jaime Silva.
Na parte interior, o monumento contará com novas instalações sanitárias, eléctricas e a respectiva pintura da capela, localizada junto ao elevador.
Câmara apoia
A Câmara Municipal de Almada não deu dinheiro, mas irá proceder ao ordenamento da zona envolvente ao Cristo-Rei, cuidando do parque existente junto ao monumento. “É com a autarquia que estamos a tratar da venda do terreno, para evitar eventuais complicações”, esclareceu o responsável eclesiástico.
O pólo tecnológico da Universidade Nova, situado no Monte de Caparica, criou um sector de construção civil que tem colaborado, com a ajuda de dois professores, no sentido de vigiar as obras.
A construção de um parque para merendas (para as excursões), de um recinto para a celebração de missas no exterior, de um novo miradouro sobre Lisboa, de restaurantes e de um hotel (para que os visitantes fiquem mais perto do Santuário) são alguns dos projectos, a longo prazo, que, por enquanto, não podem ser iniciados devido à falta de verbas.
“Apesar da dívida de 180 mil contos, o Cristo-Rei vai mesmo abrir no início do próximo mês”, garantiu o padre Jaime Silva.
Agradecimento
à neutralidade
na Grande Guerra
O monumento do Cristo-Rei, em Almada, já existe há 42 anos. Inicialmente, o projecto para a construção previa mais 28 andares do que aqueles que hoje existem, mas na altura não houve dinheiro (a obra custou 20 mil contos) para fazer um edifício com uma dimensão tão grande. Em 1932, o cardeal Cerejeira foi ao Brasil e, perante o santuário do Cristo-Rei existente na cidade Rio de Janeiro, teve a ideia de construir algo idêntico em Portugal. Em 1936 foi feito um congresso, no qual participaram todos os patriarcas do país, tendo o cardeal Cerejeira proposto a construção do santuário. Com a 2ª Guerra Mundial, os bispos portugueses prometeram que, caso Portugal não participasse, seria construído o Cristo-Rei, como forma de agradecimento a Jesus. E assim foi. Todos os cristãos deram a sua contribuição, trabalhando para a recolha de fundos. As igrejas do país também participaram na campanha e houve até crianças que contribuíram com um “valioso” tostão. O monumento ficou pronto em 1959. No início, o monumento era visitado, sobretudo, por peregrinos de diferentes dioceses. Só mais tarde, com o desenvolvimento do turismo, o santuário ganhou uma dimensão a nível internacional, com excursões que traziam visitantes dos mais variados cantos do mundo. Após 20 anos de existência, o santuário era visitado por 900 mil pessoas das quais 250 subiam no elevador para observar a capital. A pouco e pouco a afluência de pessoas foi diminuindo. Hoje em dia, é mais visitado por turistas do que por portugueses.
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