23 de Abril 2002
Casas vagas são rastilho de pólvora. Câmara já tem plano de emergência
Por razões de segurança, algumas zonas do centro histórico de Almada poderão ser fechadas ao trânsito e noutras pode mesmo deixar de ser possível estacionar. O plano de emergência específico para Almada Velha, elaborado pelo serviço municipal de Protecção Civil, já está concluído e será entregue no prazo de duas semanas à presidente da autarquia, para depois ser submetido a apresentação pública.
Segundo Henrique Carreiras, vereador responsável pela Protecção Civil, o diagnóstico de segurança revela que “não há compartimentação corta fogo, há edificações antigas ainda em tabuado e numa varanda, por exemplo, chegaram a ser detectadas três garrafas de gás”.
Luís Barros, da Junta de Freguesia de Almada, confirma que “cerca de 30% das casas no núcleo antigo estão devolutas”. “Há uma grande quantidade de habitações desabitadas e têm muito material fácil de arder”, alertou.
A casa onde mora Fernanda Santos é um desses “rastilhos de pólvora”. Há dois anos que ocupa um espaço exíguo e sem condições, com autorização do dono que não lhe exige renda nem o pagamento de água e luz. Em contrapartida, Fernanda partilha o sono com paredes húmidas de cimento, cozinha com o tecto a ameaçar cair e toma banho num cubículo de chão preto e rachado.
Acesso para bombeiros
“Não posso trabalhar por motivos de saúde e estava a dormir na rua. Sabia que não morava ninguém aqui e meti o pé à porta”, conta. Com apenas 40 anos, Fernanda (que está a ser acompanhada por uma assistente social) passa o dia “a ouvir música e a fazer crochet”, à espera que um dia a Câmara lhe ofereça uma casa para viver. Os 130 euros do Rendimento Mínimo Garantido são esticados para comer e pagar os medicamentos.
Situações como esta foram identificadas pela Protecção Civil, que propôs a “supressão do estacionamento e do trânsito” em algumas zonas, para facilitar o acesso dos bombeiros em caso de emergência. O estrangulamento das ruas, ocupadas por veículos, pode deixar
de ser uma realidade em breve.
Henrique Carreiras garante que “através da cartografia digitalizada é possível provar que há zonas de estacionamento suficientes” para receber as viaturas dos moradores, imobilizadas muitas vezes à “porta de casa”. Apesar de não especificar que artérias poderãoser encerradas ao trânsito, este responsável adiantou ao JN que se trata do núcleo de habitações antigas junto ao castelo de Almada, com transversais e pátios interiores. Essas zonas só não serão interditas a cargas e descargas e, naturalmente, às viaturas dos
bombeiros.
Maria Emília de Sousa, presidente da autarquia, explicou ao JN que a câmara investiu cerca de milhão e meio de euros na recuperação de casas. “Fomos até à infraestrutura, ao “osso” das habitações. Não nos ficámos pela pintura”, realça. Mas o facto é que, depoisde feita a recuperação, o preço de aluguer atinge valores altos para casas que não têm mais de 30 metros quadrados. Maria Celeste mora na zona histórica há 45 anos e ainda se lembra de pagar 200 escudos de renda mensal. Hoje desembolsa cerca de 15 euros, muito
menos do que pagaria um casal que quisesse alugar casa. “Quando as habitações vagam são alugadas mensalmente pelos proprietários a preços que variam entre os 180 e os 200 euros”, diz Luís Barros.
“Temos um grande interesse que venha gente nova habitar a zona, mas quem é que vai pagar uma renda destas por uma casa com 30 anos?”, questiona.
Quatro escolas com simulacros
Os planos de emergência específicos de quatro escolas do ensino básico do concelho estão prontos a testar. Depois de identificados os riscos e os materiais disponíveis, entre 7 e 25 de Maio haverá simulacros em escolas da Trafaria, Laranjeiro, Almada e Charnecade Caparica.
Segundo Henrique Carreiras, “de uma forma geral, a segurança nas escolas não está muito organizada, mas todas têm um padrão mínimo de segurança”. A autarquia está também a dar formação aos agentes escolares sobre manuseamento de extintores e comportamentos a ter em caso de emergência. A iniciativa da Câmara Municipal vai estender-se a todos os estabelecimentos escolares, incluindo a Faculdade de Ciência e Tecnologia, no Monte de Caparica, onde há cerca de um mês uma professora ficou gravemente ferida depois de uma explosão num laboratório de química orgânica.
Jornal de notícias – ANA RUTE SILVA